sexta-feira, 18 de março de 2011

Carlos Drummond de Andrade...

A hora do cansaço
1984 - CORPO


As coisas que amamos, 
as pessoas que amamos 
são eternas até certo ponto. 
Duram o infinito variável 
no limite de nosso poder 
de respirar a eternidade. 

Pensá-las é pensar que não acabam nunca, 
dar-lhes moldura de granito. 
De outra matéria se tornam, absoluta, 
numa outra (maior) realidade. 

Começam a esmaecer quando nos cansamos, 
e todos nós cansamos, por um outro itinerário, 
de aspirar a resina do eterno. 
Já não pretendemos que sejam imperecíveis. 
Restituímos cada ser e coisa à condição precária, 
rebaixamos o amor ao estado de utilidade. 

Do sonho de eterno fica esse gosto ocre 
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.